Tuesday, October 23, 2007

Friday, October 19, 2007

Mais do mesmo

O dia amanheceu claro, com aquele cheiro a sol que me entra pela pele e me faz recordar os dias daquele lugar.

Obrigo-me a levantar pois a noite acabou por ser curta para o encontro com todas as almas de que tenho saudades. Assim preguiçosa dou os bons dias ao dia e com a vontade de que não é apenas mais um dia, sigo em frente.

Junto ao rio, naquele percurso que de olhos fechados e alma aberta percorro, olho para o céu e lá estás tu, mais um avião que cruza o azul e o pensamento voa para ti. Não que isso me incomode, sei que vou ainda por algum tempo ver aviões no céu, porque ainda estás presente mesmo com a tua ausência, porque apesar das tuas visitas fugazes, simplesmente não te posso querer de outra forma, se não estarias ou então os aviões deixariam de me ver e por isso quis sentir outra vez, mais do mesmo, apenas para confirmar que o teu agora não mudou.

Baixo os olhos e volto ao rio, por momentos olho para o caminho e agora lá está o outro tu e sorri-o. Aquela marca deve ter aumentado o número de vendas naquele modelo mais de 50% e penso, mais do mesmo. Do meu e do teu silêncio, da minha e da tua ausência, das minhas e das tuas dúvidas.

Sem dúvida que o espelho tinha que ser bem grande para que de uma vez por todas, me deixa-se de medos em relação ao que quero, de dúvidas em relação ao meu sentir, de incertezas naquilo que sou e confronta-se de vez o sonho. A minha vontade em amar e ser amada, sem apego, de alma presente por aquilo que se é e não por aquilo que representamos, por isso se vieram à minha estreia, convencidos de que teriam mais do mesmo, enganam-se. Não consigo fechar as portas, mas sigo em frente. Não as fecho porque a ti não sinto que quero e a ti outro tu, porque sinto que tu não queres, porque eu sinto igual. Assim sem repetições e como criadora de senhora de mim, vos digo que aqui estou, de frente para mim, de frente para vós, de frente para aquele que é o meu sonho. Correr não vou, percorro a linha que me leva a ele, com perícia e equilíbrio e mesmo que por momentos duvide e questione, continuarei sempre a caminhar com o olhar presente em ti, presente em mim, seja lá quem és, seja lá quem sou, pouco importa. O sonho conhece-o de cor. As cores que o pintam, as formas que o controem, as imagens que o compõe, os sentires que enchem a alma com a certeza de que será o meu agora.



Maria

Friday, October 12, 2007

A Estreia

O artista entra em palco, o negro assume a totalidade do lugar, um vestido branco que esvoaça, deambula pelo espaço, flutuando sem arrasto, sem pesar, sem dor nem angustia. O cabelo solto pendente pelo corpo, o olhar certo de quem vê, revela uma figura de ser presente, com formas de linhas estreitas, partes iguais que se encaixam e formam aquela figura. Perfeita ou não, a sua passagem, a sua entrada, a sua presença revela um sentir forte de confiança, sem medo do escuro do palco, do escuro da vida. Apenas uma cadeira assente no meio do palco, de frente para mim, para nós, para o nada. Sentada contempla a agitação, o silêncio, o olhar de quem olha, o vazio de todos aqueles que não sabem o que é olhar de frente, olhar para dentro e verem que nada são, porque tudo é. A pouca luz existente vem dela, daquela figura que agora em pé, caminha. Numa troca perfeita de passos, numa agilidade sem medo, um caminhar de certeza que nada revela de dúvidas. Caminhando no vazio daquele palco, revela a vontade de caminhar pela vida, com o sentir de que tudo existe no lugar e no tempo certo, para aqueles que se entregam sem dúvidas de viver, sem medo de sentir e com vontade de serem aquilo que são. Pois cada um escolhe o que sentir, o que pensar e como viver. Ela sim escolheu sentir, que se parta em mil pedaços mas nunca mais vai ter medo de sentir. O que pensa, revela a imensidão da sua alma, a grandeza do ser, como espelho daqueles que a encontram no caminho que percorre. Como vive, sem dor, tranquila que a escolha de cada dia é a revelação da sua vontade e que tudo o que vive é o fantástico de existir. E se ama, perguntam vocês?! com toda a força do ser. Ama e é amada por aqueles que simplesmente estão pelo que se é, sem apego, sem dor nem sofrimento. Ama aqueles que tudo e nada representam, sem que alma se perca, sem que a sua essência fuja de si mesma. Ama apenas porque o sente como força primordial daquilo que é e daquilo que tem como existência singular, de todos os que a fazem amar. E assim sai aquela figura do palco, que nada disse e tudo revelou, simplesmente porque se permite existir.


Maria